Quando conheci Monte Azul, (6/8/1961) as ruas onde existia calçamento eram com paralelepípedo e não passava de dez a onze mil metros quadrados.
As pedras estavam distribuídas na praça Cel. Silva, onde já existia um belo jardim, a Rua Presidente Vargas, desta praça até a Rua Avelino Olimpio Fernandes, terminando com algumas pedras irregulares que diziam ser do antigo calçamento, a Rua Odon Oliva da Praça Cel. Jonathas até a Rua Presidente Vargas, a Rua Nove de Novembro, da Rua Governador Valadares até a Odon Oliva e a Rua Governador Valadares em sua extensão entre as praças, Cel. Silva e Cel. Jonathas. O mercado só tinha comércio dentro da muralha, apenas os carros de bois se estacionavam pelo lado de fora carregados de lenha para vender. Era grande o comércio de lenha naquela época, pois não existia ainda fogão a gás liquefeito.
O único estabelecimento bancário era a Caixa Econômica do Estado, que funcionava anexada à “Coletoria Estadual”, na Rua Governador Valadares, só em 1964 que foi instalada a Agência autônoma. Nesta rua também funcionava a Agência de Correios e Telégrafos instalada no nº. 28.
A única Farmácia era da Dona Julieta, sita na Rua Nove de Novembro – uma nota importante: naquele tempo se a gente quisesse comprar creme dental de outras marcas só na Farmácia de Dona Julieta que encontrava, em outros estabelecimentos só tinha Kolynos, nem produtos de cosméticos eram encontrados. Para minha irmã, (Leonice), trabalhar com seu “Salão de Beleza”, era necessário trazer os produtos de fora. Ela foi a primeira pessoa a trabalhar nesse ramo com estabelecimento aqui em Monte Azul.
Existia um Boticário que fazia remédios manipulados; o Senhor Manoel Teixeira da Silva, “seu” Nequinha.
Na minha mocidade eu era fumante, a marca de minha preferência era Luiz XV, só que aqui não encontrava então eu fazia encomenda ao Sr. Etelvino da Sorveteria Central e ele providenciava uns três ou quatro pacotes daquele “veneno” para mim. Durava pouco mais de um mês, era o tempo que o viajante passava novamente. Por falar em sorveteria esta era a única que existia na cidade, instalada na Rua Governador Valadares – em frente desta sorveteria estava a única mercearia que vendia produtos em conserva enlatados – Senhor Zelito era seu proprietário.
Naquele tempo existia na esquina da Rua Governador Valadares, na praça Cel. Silva, na frente da casa do Sr. Lamartine (hoje Bar do Dé) uma Bomba de gasolina daquelas que tinha um recipiente de vidro numa torre, e para abastecer um veículo era bombeado o combustível naquele tambor de vidro que tinha as faixas demarcando os litros, depois se esgotava dentro do tanque do veículo aquele conteúdo. Depois o Sr. João Silveira, genro de Lamartine, instalou uma bomba mais “moderna” na Praça do Pernambuco.
Os poucos bares que vendiam bebidas geladas tinham que mantê-las em geladeiras a querosene. A iluminação pública era sustentada por um conjunto termoelétrico à diesel, dispondo apenas de 100 Kilowats, que funcionava das 18:00 as 23:00 horas. Por encomenda especial, conforme a necessidade mantinha as luzes acesas até ao amanhecer; por exemplo: uma festa comemorativa, ou quando falecia alguma pessoa importante na cidade.
Monte Azul era “entroncamento”, encontro dos trens procedentes de São Paulo e Salvador – Bahia. Então o movimento na Praça da Estação era muito grande, ali existiam mais de trinta estabelecimentos hospedeiros.
Conforme a época, chegava a concentrar mais de 1500 pessoas diariamente procedentes da capital paulista e nordestina. Era interessante observar aquele cenário, os passageiros acendiam fogueiras na praça, assavam carne adquirida nos muitos açougues que ali existiam, algumas pessoas até cozinhavam. Às vezes famílias dormiam ao redor daquela fogueira.
Naquela praça existiam muitas vendas “secos e molhados” e várias lojas de tecidos.
Funcionava também um albergue, dormitório por conta do governo para atender os mais necessitados. Eram também vacinados todos os passageiros para o embarque, uma prevenção contra doenças contagiosas.
Não existia transporte rodoviário naquele tempo. Os passageiros que chegavam aqui procedentes de São Paulo, para seguir viagem aos lugares que não passava a Estrada de Ferro, embarcavam em carros “Pau-de-arara”, faziam um grande movimento naquele tempo, passageiros e veículos. Saiam dezenas desses carros, levando os “Candangos” (como eram chamados) até seus domicílios.
Em 1964 a Empresa Bandeirante colocou um ônibus para fazer linha duas vezes por semana, gastando de sete a oito horas para chegar a Montes Claros, numa rústica estrada. Depois veio a Empresa Tolentino que hoje deve ser a Transnorte.
O meio de comunicação mais rápido era o “Telegrama”, usando o código Morse, transmitido por fios os sinais com pontos e linhas através de uns singelos aparelhos que os telegrafistas usavam, passando para uma fita de papel, e iam interpretando aquele significativo código. Outro meio de comunicação era o correio, mas era vagaroso, por exemplo, uma carta do Paraná levava mais de mês para chegar aqui.
O progresso foi muito lento para chegar até este recanto agreste. A energia de usinas hidroelétricas veio em 1975. O telefone interurbano iniciou em 1978. A pavimentação da estrada rodoviária BR 122 foi no ano de 1989.
Parece que o “nosso” esforço antecipou um pouco, digamos assim; certo conforto ao povo dessa terra. Em 1972 formamos um grupo de amigos e trabalhamos em prol de uma realização: trazer imagem televisionada para Monte Azul. Várias pessoas empenharam neste sentido, dentre eles os que mais batalharam, subindo serra, pernoitando ao relento, carregando cargas pesadas, a equipe de “frente” podemos citar; Manuelito Bernardo da Silva, não faltando este que conta esta história, Mario Batista, Durval Jorge, João Teixeira Barbosa, Idalino Antunes, João Pereira da Silva (que não é parente deste autor) vulgo “Surubim”. Fomos pioneiros em captar imagens de televisão, depois de Montes Claros. A nossa proeza serviu para outras cidades seguir o nosso exemplo. Escalamos todos os pontos mais elevados das serras, Ginete e Geral. Foi construído até uma cabana no pico da serra Geral para montar a repetidora para captar o sinal e retransmitir para a cidade, vindo inicialmente de Salto da Divisa no estado da Bahia. Era a antiga TV Tupy, que naquela época levava ao ar a novela “Mulheres de Areia”.
Outra brincadeira nossa que deu estímulo para outras pessoas: certa vez eu e meu amigo Manuelito, fizemos uma espécie de telefone para comunicarmos a uma distância de uns 300 metros, daí então surgiu certa curiosidade, o interesse pelo nosso “aparelho”, e entre as pessoas mais interessadas formaram um grupo; os senhores, Mario Batista, Luiz Xavier, Durval Jorge, José de Oliveira (prefeito na época), Lormindo Francisco Rodrigues, João Barbosa e outras pessoas, e fundaram a COTEMA. Companhia Telefônica de Monte Azul.
Pesquisado por: José Pereira da Silva – Zé Eletricista
Trechos do Livro: História Política e Social no Tempo dos Coronéis – Tremedal – Monte Azul
Postado por: Juliano Figueirôa Teles